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ANÁLISE DO LIVRO "A ILHA PERDIDA"

Page history last edited by Geane Poteriko 13 years, 6 months ago

 

 

ANÁLISE LITERÁRIA:

 

3ª FASE DA LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA

Geane Aparecida Poteriko da Silva


 

 

A ILHA PERDIDA

 (Maria José Dupré)

 

 

 

Maria José Dupré publica “A ilha perdida” em 1946, quando se buscava manter a indústria do livro para crianças interessante ao público-alvo, em continuidade ao trabalho da geração modernista. Nesse sentido, a 3ª fase da Literatura Infantil Brasileira (1940-1965) é marcada por uma infra-estrututura de melhor nível, em virtude da existência de editoras especializadas em literatura para crianças, em consonância com a profissionalização de escritores específicos para este gênero, produzindo livros exclusivos ao público infanto-juvenil.

 

Isto posto, é relutante apontar primeiramente que na 3ª fase da Literatura Infantil Brasileira há um importante ponto característico entre as obras: o mundo rural é o lugar comum desta fase, na qual a zona rural é retratada como momento de lazer. Nesse sentido, a fazenda é um local de diversão visitado pelas crianças nas férias, onde estas vivem impressionantes aventuras.

 

Além disso, outro aspecto em comum é que o espaço rural contém riquezas que é preciso buscar. Por tal motivo, predominam as histórias transcorridas na floresta, com ênfase na exploração das regiões cada vez mais selvagens e menos civilizadas.

 

... subindo ao morro mais alto da fazenda (...) bem no meio do rio, via-se uma ilha que na fazenda costumavam chamar de Ilha Perdida. Solitária e verdejante, parecia mesmo perdida entre as águas volumosas. (...)

 

http://mundodoslivros2009.blog.terra.com.br/files/2009/05/helena-moraes.jpg

 

Assim à distância, parecia cheia de mistérios, sob as copas altíssimas das árvores; e as árvores eram tão juntas umas das outras que davam a impressão de que não se poderia caminhar entre elas. (p. 7)

 

Em virtude da temática rural em destaque, pode-se dizer que é nesse período que a literatura infantil tem sua atuação reforçada “enquanto proposta de leitura da sociedade brasileira em expansão modernizadora, no sentido do crescimento industrial e da urbanização”, tal como colocam Lajolo & Zilberman (1999: 88). Assim, a literatura infantil vai em oposição ao contexto econômico social do Brasil da época, que dispara na direção de um projeto industrial de grande estrutura, a fim de garantir a continuidade do processo de modernização, e nesse sentido o gênero infantil volta a localizar parte considerável dos heróis das histórias em sítios em fazendas, conforme é possível constatar em “A ilha perdida”, cujo enredo gira em torno dos personagens Henrique e Eduardo, que passam as férias escolares na fazenda de seu padrinho:

 

Por ocasião de umas férias, justamente em fins de novembro, chegava à fazenda Henrique e Eduardo, os dois primos mais velhos de Oscar e Quico. Eram dois meninos de doze e catorze anos, fortes e valentes. (p. 8)

 

 E, da fazenda, saem em busca de aventuras ao fazer uma excursão proibida, às escondidas, à ilha próxima, desconhecida e perigosa.

 

Uma tarde os quatro meninos ficaram no alto do morro olhando a Ilha Perdida. Como seria bom se tivessem uma canoa e pudessem ir ver o que havia na ilha. Eduardo, de espírito mais prático, foi logo dizendo:

 

- Que pode haver lá? Árvores, . (p. 8)

 

 

Nota-se, portanto, que a “literatura infantil torna-se porta-voz de uma política econômica que considera a agricultura a viga mestra de sustentação financeira do país, e o homem do campo, seu principal agente” (op. cit, p. 96).

 

O espaço rural é reabitado enquanto cenário tanto para o transcurso da ação ficcional, como para a realização de um projeto econômico liderado pelos protagonistas das aventuras ali vividas:

 

Henrique e Eduardo (...) montavam muito bem e sabia nadar. Logo nos primeiros dias, percorreram sozinhos grande parte da fazenda; subiam e desciam morros, andaram por toda parte a ao verem o riozinho, apelidaram-no de “filhote do Paraíba” (...) Eles riam e diziam que não havia perigo, continuavam a dar grandes passeios... (p. 8)

 

 

A fazenda perde sua conotação de local de trabalho e se transforma em um local de diversão e aventura.

 

Em “A ilha perdida”, a natureza é extremamente misteriosa e cheia de perigos. O local é na verdade uma fazenda situada no vale do Paraíba, que não passa por dificuldades financeiras, e desse modo pode ficar à disposição das crianças da cidade, como lugar para se passar as férias.

 

As férias são tumultuadas porque os meninos acabam se perdendo em um lugar incomum: uma ilha. Os perigos decorrem da imprudência das crianças, que desobedecendo às orientações dos adultos, deparam-se com situações complicadas.

 

 

Por essa razão, “A ilha perdida” tem um enredo representativo. É importante lembrar que a ilha não é atingida por acaso ou fatalidade: todos a conhecem desde sempre, mas à distância. Apenas Henrique e Eduardo ousam ir até o local, mas para tanto, precisam mentir e desobedecer.

 

O espaço desejado configura-se como proibido, que pode ser alcançado eventualemente em decorrência de um gesto culposo, mas que, por esse motivo – pela curiosidade e pelo espírito de aventura dos garotos – não pode ser retido.

 

Pode-se notar ainda que nesta obra, a vida rural é ignorada, apesar de o campo (e a floresta) ser o espaço da narrativa, sendo assim o local onde se fixam os personagens que se deslocam ao campo em busca de aventuras.

 

A cidade aparece indiretamente, visto que sua população é constituída pelos protagonistas das histórias. Estes, com um cotidiano meramente repetitivo e monótono – entre a casa e a escola – visualizam o espaço rural como o local apropriado para o lazer e a diversão por meio da aventura.

 

Na linguagem, ocorre a opção pelo padrão culto, no que se refere ao emprego da língua portuguesa na narração e nos diálogos:

 

Lajolo & Zilberman (1999: 103) afirmam que Maria José Dupré denuncia o esgotamento do modelo narrativo em alta naquele período, pois mostra que o cotidiano rural é incapaz de apresentar apelos suficientes para reter as pessoas que o visitam. Portanto, a superação disso depende da descoberta de novas atrações, como a ilha.


 

  

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

DUPRÉ, Maria José. A Ilha Perdida. 37ª ed. Série Vaga-Lume Júnior. São Paulo: Ática, 1998.

 

LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil Brasileira: História & Histórias. 6ª ed. São Paulo: Ática, 1999.

 

http://resumodoslivrosdaquartaserie.blog.terra.com.br/files/2009/06/hellen.jpg

 

 

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